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Publicado a:
12/10/2020

Escrita:
Ricardo Atayde

4 razões para implementar um Sistema Gestão de Energia na sua organização

Antes de começarmos a avançar mais sobre este tema, gostava de lhe lançar um desafio – quando ouve a expressão Eficiência Energética, qual é a primeira coisa que lhe vem à cabeça? Deixe-me adivinhar, Painéis Fotovoltaicos? É normal, esta é a visão geral da sociedade sobre este tema. Neste artigo irei explicar que eficiência energética é muito mais do que painéis fotovoltaicos.

O tema da Eficiência Energética, que deriva da Gestão de Energia, está hoje em dia, associado à implementação de sistemas fotovoltaicos. Não considero que não seja interessante ou vantajoso, aliás eu sou o primeiro a promover este tipo de sistemas, não por estar na moda, mas sim porque hoje em dia já existem mecanismos de financiamento que tornam a sua implementação financeiramente atraente. 

Mas então de que se trata realmente o termo Gestão de Energia?

Conforme o nome indica, trata-se de gerir todo o sistema energético de uma organização, ou seja, consumos com energia elétrica, gás, biomassa, gasóleo, ou qualquer outro tipo de fonte energética e tornar este sistema mais eficiente ao longo tempo, resultando em redução de custos operacionais e emissões de gases de efeito de estufa (GEE).

Uma unidade industrial da FujiFilm, após ter implementado um sistema de gestão de energia, observou-se que dois dos seus sistemas técnicos estavam em funcionamento durante horas de não produção. Com esta descoberta conseguiram reduzir em 5% os custos com energia elétrica.

E para Gerir o Sistema Energético o que é necessário fazer?

Simplificando, trata-se de implementar uma metodologia de aquisição, tratamento e análise de dados de consumos energéticos conforme cada organização faz para gerir o seu próprio negócio. Adquirindo dados das atividades do dia-a-dia, convertendo para relatórios e analisando-os ao detalhe. Com os consumos energéticos trata-se do mesmo e estando estes no top 3 dos custos operacionais de qualquer tipo de organização, acho que vale a pena começar a olhar para os consumos energéticos como se de vendas se tratasse.

Quais as principais razões para implementar um Sistema de Gestão de Energia? Elaborei quatro justificações que o fará olhar de forma diferente para os consumos energéticos da sua organização.

Descobrir que está a investir em desperdício

Conforme descrito em cima, um dos critérios para a implementação de um Sistema de Gestão de Energia, passa por adquirir dados de consumo, dos sistemas energéticos mais representativos, e quanto maior a frequência de aquisição melhor (não vale dizer que tem as faturas de energia – já experimentou gerir o seu negócio apenas com dados mensais?). Com a aquisição e tratamento destes dados existe uma grande probabilidade de verificar que tem consumos energéticos em alturas de não produção e que nem imaginava.

Um excelente exemplo, trata-se de uma unidade fabril da FujiFilm no Reino Unido, onde após ter implementado um sistema de monitorização, descobriu que o sistema de ar comprimido e um dos sistemas de AVAC, estavam parametrizados de forma incorreta e a funcionar durante horas de não produção. Resultado, 47 000€ de redução anual e recuperação do investimento em 3 semanas (link para o artigo original).

Um outro exemplo que poderei dar, que se passou num Hotel em Lisboa, desta vez não com energia eléctrica mas sim com água, onde num dos meses recebeu uma fatura com um valor a pagar muito superior ao normal, na segunda fatura continuava muito superior e na terceira fatura decidiram investigar e perceber o porquê dos consumos tão elevados. Após vários contactos com os SMAS e brainstormings com a equipa de manutenção, chegaram à conclusão de que uma das condutas subterrâneas tinha uma fissura e que a água estava a escoar diretamente para o solo. Resultado, cerca de 20.000€ de desperdício, que poderiam ter sido evitados caso tivesse um sistema de monitorização constante dos consumos de água – em título de exemplo este valor pagaria cerca de 2 sistemas de monitorização de energia e água naquele hotel.

Definir, com precisão, quais os equipamentos a necessitar de aumento de eficiência

Um dos grandes problemas da eficiência energética é que a energia não se vê e por este motivo não se consegue quantificar de forma rápida e direta. Se estivermos a falar de vendas, sabemos que vendemos três equipamentos e qual ou quais as razões porque não vendemos mais. Com a energia apenas sabemos que se consome e que se tem que pagar ao fim do mês.

Caso a sua organização não tenha um Sistema de Gestão de Energia implementado, dificilmente vai conseguir definir quais os equipamentos com maior consumo energético, a não ser por estimativa o que cria alguma incerteza na hora de avançar com um investimento. Desta forma um Sistema de Gestão de Energia, que obrigatoriamente contempla um sistema de aquisição de dados de consumo (monitorização), permite avaliar com exatidão a performance de cada sistema técnico e definir onde deverá investir para ter maior retorno.

Numa unidade industrial surgiu o projeto de substituir a atual caldeira por uma nova com maior rendimento, sendo que após terem contratado uma Auditoria Energética e analisado com detalhe o perfil de consumo desta, chegaram à conclusão de que o sistema de transporte e utilização do calor (proveniente da caldeira) eram muito mais ineficientes do que julgavam. Conclusão, o projeto teve muito mais rentabilidade com a redução do desperdício energético por parte destes dois sistemas do que com a substituição da caldeira.

Nota: Com este exemplo, não significa que a substituição da caldeira fosse inviável, apenas iriam investir num sistema/equipamento que tinha uma performance bastante superior comparado com outros sistemas/equipamentos mais ineficientes.  

Apoio na decisão de projectos para produção de energia localmente

Conforme abordado no início deste artigo, a principal tendência para o setor da eficiência energética é a produção de energia local painéis fotovoltaicos, geradores eólicos, solar térmico, cogeração, etc. Como qualquer tendência, leva-nos a querer pertencer a ela, e sem dúvida que a implementação de sistemas fotovoltaicos veio para ficar e, hoje em dia, uma organização que não tenha um sistema fotovoltaico implementado, está em desvantagem para com os seus concorrentes.

Então como poderá um Sistema de Gestão de Energia ajudar na produção local? Através, mais uma vez, da aquisição de dados dos consumos energéticos. Com a chegada do regime de autoconsumo (Decreto de Lei 153/2014) tornou-se inviável vender energia elétrica à rede pública, pois a tarifa de venda normalmente é mais baixa do que a tarifa de compra, o que veio criar a necessidade de consumir praticamente 100% da energia produzida localmente. Para um correto dimensionamento de um sistema de produção de energia elétrica é necessário saber como se comporta o perfil de consumo da organização e saber, realmente, em que alturas do dia necessita de produzir energia para autoconsumo e evitar o excedente.

Um armazém logístico em Lisboa iniciou um projeto para implementação de um sistema fotovoltaico, apenas com a indicação dos consumos de energia elétrica das faturas mensais. Já tinham selecionado a melhor proposta e organizado todo o plano de execução da obra até que um dia receberam a visita de um consultor em Gestão de Energia. Este aconselhou-os a analisarem o perfil de consumo horário da organização, para terem a certeza de que a futura produção de energia elétrica não teria um elevado excedente – adquiriram, então, os dados de consumo através da telecontagem disponibilizada pela EDP distribuição (link para acesso a esta plataforma).

Resultado: Observaram que o perfil de consumo de energia elétrica diário era muito inconstante e apresentava uma amplitude energética de 52% (num dia às 10:00 foram consumidos 10 kWh, no dia seguinte à mesma hora consumiu-se 15 kWh). Os dimensionamentos que tinham recebido, apenas com recurso aos dados das faturas mensais, iriam originar cerca de 35% de excedente energético, alterando o período de retorno do capital de 6 anos para 8 anos. Para além de terem descoberto que o projeto seria financeiramente menos viável do que o esperado, com a análise do perfil de consumo energético horário, reduziram a potência do sistema fotovoltaico a instalar e, consequentemente, menor investimento.

Nota: Com a redução da potência instalada, reduziram também a percentagem de energia produzida face à consumida, mas no final das contas o projeto obteve muito maior viabilidade financeira e continuou a ser um projeto energeticamente sustentável.

Melhoria contínua dos sistemas consumidores de energia

Uma organização com um Sistema de Gestão de Energia implementado, tem uma política energética bem definida, com objetivos e planos de racionalização quantificáveis e alcançáveis no tempo. Com estas premissas, os sistemas técnicos estarão em constante análise, quer em termos de consumo, quer em termos de performance de funcionamento, o que se resume à constante melhoria de todo o sistema ao longo tempo.

Em 2017, durante uma Auditoria Energética a um resort em Marrakech, reparámos que o sistema de ventilação estava sempre a desligar-se, inundando rapidamente o salão de refeições com fumo e cheiro a comida. Após termos verificado dois dias seguidos o mesmo acontecimento, fomos investigar e chegámos à conclusão de que o problema vinha do quadro elétrico que estava a sobreaquecer e, por consequência, o disjuntor disparava – sobreaquecia devido à exposição solar durante o pico do verão.

Com este exemplo, o que quero indicar é que com um Sistema de Gestão de Energia implementado, esta anomalia seria identificada logo à partida, ao invés de passados dois meses, como foi o caso. Este acontecimento estava a causar problemas à organização por duas vias distintas: 1) Aumento do desgaste do sistema de ventilação, que se continuasse a ter o mesmo tratamento – “desligou-se então vamos lá voltar a ligar” – poderia provocar a rutura total do equipamento e 2) Desconforto causado aos clientes.

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